Perseguição a cristãos cresce na América Latina
Recentemente, a Portas Abertas lançou a Lista Mundial da Perseguição 2023, que classifica os 50 países onde os cristãos são mais perseguidos. Diante de toda violência, pressão e perseguição aos cristãos, algumas evidências assombram e colocam todo o mundo cristão, livre de perseguição, em constante alarme
Segundo a pesquisa, realizada anualmente há 30 anos pela Portas Abertas, mais de 360 milhões de cristãos são perseguidos no mundo. Isso significa que 1 a cada 7 cristãos são perseguidos. Já na América Latina, esse número tem subido a cada ano e hoje 1 a cada 15 cristãos são perseguidos.
A pesquisa abrange o período entre 1º de outubro de 2021 a 30 de setembro de 2022.
América Latina
Um dos dados que mais chama a atenção é o crescimento da violência contra cristãos na América Latina. Este ano, mais um país entra no ranking dos 50 em que cristãos são mais perseguidos: a Nicarágua. Além deste país, Colômbia, Cuba e México compõe a Lista Mundial da Perseguição 2023.
A posição da Nicarágua subiu muito durante o período de apuração da LMP, o que reflete a repressão do governo, que aumentou desde os protestos em abril de 2018. A igreja tem sido um alvo em especial, por causa da reputação de autoridade e legitimidade que possui no país. Represálias políticas incluem danos a igrejas, fechamento de faculdades e universidades cristãs, ONGs cristãs e estações de rádio e TV que pertencem a igrejas, prisões arbitrárias, e a expulsão de líderes religiosos do país. O objetivo dessas violações à liberdade religiosa motivadas politicamente é a intimidação dos cristãos a fim de silenciá-los e fazer a igreja e seus líderes perderem credibilidade entre a população.
Já, um dos países que mais subiram no ranking geral é Cuba, passando de 37º colocado para 27º. O aumento da pressão e da violência fez com que a pontuação geral subisse. O regime ditatorial intensificou suas táticas repressivas contra todos os líderes e ativistas cristãos que se opunham aos princípios do regime, especialmente após as manifestações generalizadas ocorridas em julho e novembro de 2021. O governo agiu da mesma forma contra aqueles que participaram de outras formas de oposição ao regime comunista. As medidas das autoridades incluíram prisões, sequestros, multas arbitrárias, vigilância rigorosa, negação de licenças e vistos religiosos e abusos físico e mental.
O país da América Latina que está em um ponto mais alto na LMP é a Colômbia, que subiu oito posições, passando da 30ª para a 22ª colocação. A Colômbia subiu oito posições na Lista Mundial da Perseguição 2023, em grande parte por causa do aumento da violência, incluindo assassinatos. A pressão também aumentou, devido a gangues criminosas que visam os cristãos. Na sociedade colombiana em geral, a intolerância à religião aumentou.
Não menos importante e igualmente intolerante e violento aos cristãos, está o México que passou de 43º para 38º. Este aumento reflete o crescimento no nível extremo de violência contra cristãos. o número de denúncias de violência contra cristãos no México foi recorde. Grupos criminosos continuam ameaçando os cristãos. Onde quer que a presença cristã ameace as atividades ilegais das gangues, há perseguição. Os criminosos aproveitam a fraqueza das autoridades estaduais para manter a corrupção e a impunidade.
Cristãos em comunidades indígenas também enfrentam hostilidade crescente porque se recusam a seguir princípios e costumes religiosos tradicionais (a maioria relacionado a práticas católicas). Em outros lugares, a intolerância religiosa também está aumentando por causa de ações de grupos ideológicos radicais que se opõem à expressão pública da fé cristã.
Para o secretário geral da Missão Portas Abertas no Brasil, Marco Cruz, a América Latina é uma região de tensão e que merece atenção especial este ano, no que se refere à perseguição a cristãos. “A opressão direta do governo contra os cristãos vistos como vozes da oposição é comum em países com regimes autoritários na América Latina. Além disso, o crime organizado se instalou, especialmente nas áreas rurais para os cristãos que se manifestam contra as atividades dos cartéis”, conclui.
Cristão perseguido do México visita o Brasil
Em visita ao Brasil, o pastor mexicano Jaime Canales (pseudônimo) está em agenda em várias igrejas brasileiras, contando o seu testemunho e como o cristãos é perseguido no México. Em entrevista exclusiva para a Portas Abertas, Jaime conta como e porquê foi preso por sua comunidade e porque teve de abandoná-la com sua família, para que não fossem mortos.
Portas Abertas – Desde que converteu a Cristo você foi preso 5 vezes, teve direitos negados como cidadão, sofreu na pele o que é ser um perseguido por amor a Jesus. Como foi esse momento para você? Mesmo com todo sofrimento que passou, é uma pessoa mais feliz?
Pr. Jaime – Para explicar isso, preciso explicar como acontece a perseguição no México. O México é um país reconhecidamente católico e sua Constituição respeita e garante a liberdade de culto e de conversão a outras religiões. Porém, as comunidades rurais, povoados e tribos que não estão no contexto de grandes cidades, têm suas próprias regras e leis quanto à religião e conversão. A comunidade que eu pertencia, no Estado de Oaxaca, qualquer outra religião que não fosse a católica, era proibida. Quem desafia essa lei, paga um alto preço.
No início do meu ministério, comecei a pregar e 10 famílias se converteram a princípio. Quando a liderança da comunidade percebeu o crescimento do evangelho, a perseguição começou e as ameaças também. Primeiro foram advertências: “você pode perder suas terras, você pode ser proibido de comprar e vender na comunidade, seus filhos podem ser proibidos de frequentar a nossa escola”. Continuamos a pregar e o segundo aviso veio com 3 dias na prisão*. Eles disseram que era para eu colocar a cabeça no lugar e renegar a minha fé em Jesus Cristo e nesse evangelho que eu pregava. Saindo da prisão, continuei a pregar e ensinar a comunidade sobre o amor de Deus. E a segunda ameaça veio mais séria e com consequências mais duras: tiraram o direito de trabalhar a terra e meus filhos não poderiam ir para a escola. Em todos os momentos eu via o poder e a providência de Deus em nossas vidas e na vida da comunidade. Com a segunda prisão, 8 das 10 famílias que eram cristãos mais fortalecidos, voltaram à prática da religião antiga, negando a Jesus e renegando sua fé Nele.
Diante dessas ameaças e proibições, chamei minha esposa e perguntei se ela queria continuar vivendo com tantas restrições. “Eu quero que você continue pregando e vamos continuar falando do amor de Jesus à nossa comunidade”, disse ela. Nós então decidimos confiar em Deus sempre. Não era fácil suprir as necessidades básicas dos meus filhos e da minha família (uma irmã e a mãe moravam com ele na época). Ao sair da prisão pela segunda vez, subi ao monte e fiz 40 dias de oração e jejum. Meu corpo saiu combalido, mas meu espírito estava fortalecido na força do Senhor e continuei pregando, sempre confiando em Deus.
Procurei a justiça institucional para buscar por minha liberdade, uma vez que o México é um país livre para adorar. Ganhei em todas as instâncias e recebi um documento que me dava o direito de adorar e pegar o evangelho. Mas a minha comunidade não aceitou, alegando que o governo não mandava ali, mas o povo mandava e ditava as regras.
Neste tempo, uma multidão foi à minha casa, armada de paus, pedras e facões para me fazer parar. Toda a minha família e minha mãe e irmã estavam em casa. A multidão invadiu violentamente a casa. Agrediram minha irmã e meus filhos assustados gritavam. “eu pensava que poderia fazer algo e defender a mim e à minha família. Mas Deus falou comigo: “minha é a vingança e eu retribuirei”. Percebi que a justiça é de Deus e me tranquilizei. E eu disse aos nossos agressores: vocês vieram me buscar, estou aqui, deixe a minha família e vou com vocês. E me levaram a prisão e fiquei preso por 5 dias. Verdadeiro martírio. Momentos difíceis de uma única opção: sairia dali se renunciasse a Cristo. Foi então que não renunciei a Jesus, mas deixei a minha comunidade, com minha família e minha mãe e irmã.
Portas Abertas – Qual o momento mais triste que você já presenciou em seu país envolvendo a perseguição por seguir a Jesus? Poderia nos relatar?
Pr. Jaime – A expulsão de irmãos de suas terras, principalmente em comunidades indígenas e rurais, onde tudo o que eles têm e são provêm da terra. É muito triste, desolador e desesperador você perder tudo o que tem e sua identidade, sem entender muito bem que a sua identidade real está firmada em Jesus. Muitas comunidades pressionam, perseguem e expulsam os cristãos de suas terras, renegando-os ao descaso, fome, frio e desesperança.
Foi o que aconteceu comigo. Quando me libertaram da prisão, colocaram a mim e à minha família sobre uma caminhonete e nos levaram para outra comunidade, nos largando lá. (uma das cenas mais tristes foi ver membros das oito famílias que renegaram a sua fé, segurando cartazes que diziam: fora, cristãos). Nessa comunidade, um pastor nos acolheu, a igreja nos deu um terreno e nos ajudou a construir nossa casa. Essa comunidade é apoiada pela Portas Abertas, que nos ajudou espiritualmente e financeiramente e pude abrir uma cozinha que vende e doa alimentos à comunidade.
Portas Abertas – Qual o recado para a igreja que ainda é livre da perseguição?
Pr. Jaime – A perseguição é bíblica e vai chegar a todo cristão piedoso. Mas até que ela chegue, aproveite de sua liberdade para pregar o amor de Jesus, em tempo e fora de tempo. Aproveite para orar e apoiar o cristão perseguido pelo mundo. Ore por nós, para que sejamos fortalecidos e continuemos a nossa fé e missão de levar o amor de Deus em nossas localidades, comunidades, países.
Hoje, Jaime e sua família vivem na mesma comunidade que os acolheu. Ele é pastor em tempo integral e recebe cristãos que são expulsos de suas comunidades, dando apoio psico-social e espiritual a eles.
*A prisão nessas comunidades são casas preparadas pelas autoridades locais – escolhidos pela própria comunidade – com leis e sentenças dadas por eles mesmos
O que a Portas Abertas tem feito e como ajudar
Nessa região, a Portas Abertas tem projetos e campanhas que atendem às necessidades específicas do cristão perseguido em cada país. São programas de atendimento emergencial, socioeconômico, pós-trauma, abrigo para crianças em situação de perseguição por sua fé, distribuição de Bíblias e material cristão, treinamento de pastores e líderes, entre outros. Acesse este link para conhecer mais e ajudar.
Para saber mais sobre a Lista Mundial da Perseguição, acesse www.portasabertas.org.br
Fonte: Portas Abertas